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Filha do Pai

Por Convidado(a)

05/03/2021, às 10h00 | Conteúdo atualizado em 05/03/2021, às 11h56

Lá pelas 6 da manhã, o cheiro do café fresco tomava conta da casa. Pão tostado na frigideira e toucinho. Acho que ele deve ter se inspirado em algum filme norte-americano. Nunca perguntei. Boa! Vou tirar essa dúvida depois. Em dias de frio, meu pai também deixava água quente em uma canequinha na pia do banheiro para que eu pudesse lavar o rosto. Enquanto terminava a primeira refeição do dia, Seu Luiz aquecia os motores do Golzinho bege (movido a álcool) na garagem do sobrado. O ponto de ônibus nem era tão distante, mas ele fazia questão de me deixar ali para que pudesse pegar a condução em segurança até a faculdade. Às quartas e quintas-feiras, a rodada do campeonato de futebol centralizava a ‘longa’ conversa de três minutinhos. Não faltavam críticas e elogios ao nosso São Paulo. Bons tempos aqueles.

 

No fim de semana, as portas do guarda-roupa ganhavam vida. Gritavam cedo. Um jeito de acordar a ‘criançada’ sem falar um pio. Isso me irritava, confesso. E de novo vinha o café quente. Desta vez, na cama. E para os três filhos. Doce recordação.

 

As lembranças parecem que ganham uma dimensão maior, mais profunda quando você está longe de sua terra natal. Na Itália, não sou a ‘filha do Seu Luiz’, a ‘Paulinha’ da minha mãe. Também não sou a ‘Pauletta da RTM’, nem a ‘princesa’ do Walter Fernandes. Muito menos: ‘aquela brasileira’, expressão normalmente usada no exterior para aviltar as mulheres do nosso Brasil e reforçar o estereótipo de que todas nós temos samba no pé e somos da cor do pecado (objetificação do corpo negro), por exemplo. A identidade de Cristo impressa no meu caráter precisa falar ainda mais alto em solo estrangeiro. A referência é Ele. Os históricos familiar e profissional não contam tanto. Uma bela oportunidade para experimentar a dependência do Pai, para ‘baixar a bola’ do ego.

 

O desafio torna-se gigante quando você está enclausurada. Como apresentar minha certidão de novo nascimento em um contexto de pandemia, com acesso restrito às pessoas, em uma cultura diferente? Estreitando o relacionamento com o Eterno. Precisamos meditar na Palavra. Colocar em prática os Seus decretos e mandamentos. Obediência é amor. Ame o Senhor e o seu próximo. Esbanje generosidade e respeito.

 

É importante também trazer à memória os feitos do Criador em nossas vidas. Faz um bem danado. Já começou a contar as bênçãos, os milagres diários? Você passaria a vida tentando numerá-los. Até rimou! Leia em voz alta para perceber.

 

“Não se esqueçam das coisas que testemunharam. Não deixem seu coração se desviar.” (Deuteronômio 4:9 - A Mensagem)

 

Recado dado! Viva Cristo em tudo. Assim, o mundo o verá por meio da sua breve e marcante existência na Terra.

 

Quando lembro do meu pai, penso em Deus. Eles ainda não tiveram um encontro, aquela conversa séria, sabe? Mas não perco a fé. Como filha e serva do Altíssimo, continuo intercedendo para que o Seu Luiz decida pelo amor e possa usufruir da mesma vida garantida a mim na eternidade. Certamente será a maior lembrança do meu coração. Bem melhor do que a história do toucinho e do pão tostado na frigideira.

 

Por Paula Ferreira - jornalista e correspondente da RTM Brasil na rádio CRC (Centro de Radiodifusão Cristã), localizada em Seregno, na região da Lombardia. 

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